Mauro Ferreira no G1

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domingo, 1 de maio de 2016

João Senise celebra Sinatra ao vivo com coragem e arranjos de Peranzzetta

Resenha de álbum
Título: Celebrando Sinatra ao vivo
Artista: João Senise
Gravadora: Fina Flor
Cotação: * * *

João Senise é cantor de coragem. Em dezembro de 2015, quando o universo pop festejava o centenário de nascimento de Frank Sinatra (12 de dezembro de 1905 - 14 de maio de 1998), o cantor carioca apresentou show na Sala Cecília Meirelles, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em que encarava o repertório da voz que se tornou padrão e referência de canto masculino no século XX. Gravado ao vivo, o show gera o terceiro álbum de Senise, Celebrando Sinatra ao vivo, produzido pelo próprio João Senise sob a direção musical do pianista Gilson Peranzzetta, criador de todos os arranjos inéditos que dialogam com o universo musical em que está entranhada a obra fonográfica do cantor norte-americano. Disco lançado pela gravadora carioca Fina Flor, Celebrando Sinatra ao vivo remete ao primeiro álbum de Senise, Just in time (Independente, 2013), cujo repertório foi centrado em standards da canção norte-americana. A celebração de Sinatra é corajosa porque evidentemente João Senise sequer roça o brilho das interpretações do referencial cantor norte-americano quando dá voz a temas como For once in my life (Ron Miller e Orlando Murden, 1966) e Come fly with me (Jimmy Van Heusen e Sammy Cahn, 1957). Contudo, o disco prima pelo requinte das orquestrações de Peranzzetta. O quarteto fantástico de músicos que compõem a banda-base do show - Leo Amuedo na guitarra, Ricardo Costa na bateria e Zeca Assumpção no baixo, além do próprio Peranzzetta no piano que soa jazzy em determinada passagem de I've got you under my skin (Cole Porter, 1936) - mantém aura de sofisticação ao longo das 14 músicas do disco. A voz afinada de João Senise se integra aos arranjos em tons geralmente suaves. A propósito, o melhor momento do cantor no álbum é a interpretação de Strangers in the night (Bert Kaempfert, Charles Singleton e Eddie Snyder, 1966), um dos clássicos entre os clássicos gravados por Sinatra. A atmosfera de intimismo construída pelo arranjo - pautado pelo toque do flugelhorn de José Arimatea - desvia Senise do célebre caminho trilhado por Sinatra. Essa mesma atmosfera é reeditada em outro bom momento do álbum, My one and only love (Guy Wood e Robert Mellin, 1953), balada pontuada no registro de João pelo saxofone de Mauro Senise, pai do cantor, cujo sax é ouvido também em Just friends (John Klenner e Sam M. Lewis, 1931), música que ganhou o arranjo mais jazzístico do álbum. Já I won't dance (Jerome Kern, Oscar Hammerstein II, Dorothy Fields, Otto Harbach e Jimmy McHugh, 1934 / 1935), The lady is a tramp (Richard Rodgers e Lorenz Hart, 1937) e Fly me to the moon (Bart Howard, 1954) são músicas envoltas no suingue dos metais do quinteto Brass de Pina. Os arranjos são sempre classudos. Contudo, falta ao canto de Senise nessas faixas uma dose maior de suingue. De forma geral, o cantor sobressai mais nas baladas de tonalidades mais aconchegantes. Disco em inglês, Celebrando Sinatra ao vivo tem faixa cantada em bom português. Trata-se do medley que une dois títulos do soberano cancioneiro do compositor carioca Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), com quem Sinatra dividiu antológico álbum em 1967, quando o cantor norte-americano já iniciava fase crepuscular da discografia, ainda que ainda emplacasse eventuais sucessos em escala mundial. O medley com Dindi (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959) e Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961) destaca a voz de Áurea Martins, grande cantora que fez nome na noite carioca e somente nos últimos anos passou a gravar discos com certa regularidade. Enfim, aos 27 anos, João Senise ratifica em Celebrando Sinatra ao vivo o apego às canções de formato mais clássico um ano após abordar o cancioneiro de Ivan Lins em Abre alas (Fina Flor, 2015), disco que seguiu os cânones da obra do genial compositor carioca. Ao celebrar Sinatra, o jovem cantor se mantém no porto seguro dos standards e dos arranjos de Gilson Peranzzetta. Encarar o repertório de Sinatra é ato de coragem, pois tudo já foi gravado de forma luminosa, mas mais corajoso seria João Senise arriscar o garimpo de canções inéditas e se aproximar de músicos da própria geração para ser ele o lançador de músicas e não o crooner correto que dá voz ao que já foi lançado de forma estupenda.

4 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ João Senise é cantor de coragem. Em dezembro de 2015, quando o universo pop festejava o centenário de nascimento de Frank Sinatra (12 de dezembro de 1905 - 14 de maio de 1998), o cantor carioca apresentou show na Sala Cecília Meirelles, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em que encarava o repertório da voz que se tornou padrão e referência de canto masculino no século XX. Gravado ao vivo, o show gera o terceiro álbum de Senise, Celebrando Sinatra ao vivo, produzido pelo próprio João Senise sob a direção musical do pianista Gilson Peranzzetta, criador de todos os arranjos inéditos que dialogam com o universo musical em que está entranhada a obra fonográfica do cantor norte-americano. Disco lançado pela gravadora carioca Fina Flor, Celebrando Sinatra ao vivo remete ao primeiro álbum de Senise, Just in time (Independente, 2013), cujo repertório foi centrado em standards da canção norte-americana. A celebração de Sinatra é corajosa porque evidentemente João Senise sequer roça o brilho das interpretações do referencial cantor norte-americano quando dá voz a temas como For once in my life (Ron Miller e Orlando Murden, 1966) e Come fly with me (Jimmy Van Heusen e Sammy Cahn, 1957). Contudo, o disco prima pelo requinte das orquestrações de Peranzzetta. O quarteto fantástico de músicos que compõem a banda-base do show - Leo Amuedo na guitarra, Ricardo Costa na bateria e Zeca Assumpção no baixo, além do próprio Peranzzetta no piano que soa jazzy em determinada passagem de I've got you under my skin (Cole Porter, 1936) - mantém aura de sofisticação ao longo das 14 músicas do disco. A voz afinada de João Senise se integra aos arranjos em tons geralmente suaves. A propósito, o melhor momento do cantor no álbum é a interpretação de Strangers in the night (Bert Kaempfert, Charles Singleton e Eddie Snyder, 1966), um dos clássicos entre os clássicos gravados por Sinatra. A atmosfera de intimismo construída pelo arranjo - pautado pelo toque do flugelhorn de José Arimatea - desvia Senise do célebre caminho trilhado por Sinatra. Essa mesma atmosfera é reeditada em outro bom momento do álbum, My one and only love (Guy Wood e Robert Mellin, 1953), balada pontuada no registro de João pelo saxofone de Mauro Senise, pai do cantor, cujo sax é ouvido também em Just friends (John Klenner e Sam M. Lewis, 1931), música que ganhou o arranjo mais jazzístico do álbum.

Mauro Ferreira disse...

Já I won't dance (Jerome Kern, Oscar Hammerstein II, Dorothy Fields, Otto Harbach e Jimmy McHugh, 1934 / 1935), The lady is a tramp (Richard Rodgers e Lorenz Hart, 1937) e Fly me to the moon (Bart Howard, 1954) são músicas envoltas no suingue dos metais do quinteto Brass de Pina. Os arranjos são sempre classudos. Contudo, falta ao canto de Senise nessas faixas uma dose maior de suingue. De forma geral, o cantor sobressai mais nas baladas de tonalidades mais aconchegantes. Disco em inglês, Celebrando Sinatra ao vivo tem faixa cantada em bom português. Trata-se do medley que une dois títulos do soberano cancioneiro do compositor carioca Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), com quem Sinatra dividiu antológico álbum em 1967, quando o cantor norte-americano já iniciava fase crepuscular da discografia, ainda que ainda emplacasse eventuais sucessos em escala mundial. O medley com Dindi (Antonio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira, 1959) e Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961) destaca a voz de Áurea Martins, grande cantora que fez nome na noite carioca e somente nos últimos anos passou a gravar discos com certa regularidade. Enfim, aos 27 anos, João Senise ratifica em Celebrando Sinatra ao vivo o apego às canções de formato mais clássico um ano após abordar o cancioneiro de Ivan Lins em Abre alas (Fina Flor, 2015), disco que seguiu os cânones da obra do genial compositor carioca. Ao celebrar Sinatra, o jovem cantor se mantém no porto seguro dos standards e dos arranjos de Gilson Peranzzetta. Encarar o repertório de Sinatra é ato de coragem, pois tudo já foi gravado de forma luminosa, mas mais corajoso seria João Senise arriscar o garimpo de canções inéditas e se aproximar de músicos da própria geração para ser ele o lançador de músicas e não o crooner correto que dá voz ao que já foi lançado de forma estupenda.

Rafael disse...

Capa bonita... O disco deve estar excelente... Uma belíssima homenagem a obra do genial Sinatra...

Marcelo disse...

Coragem mesmo!!!rs...