Título: MPB4 50 anos - O sonho, a vida, a roda viva!
Artista: MPB4
Gravadora: Selo Sesc
Cotação: * * * *
♪ Em mais de um sentido, o álbum MPB4 50 anos - O sonho, a vida, a roda viva! representa uma retomada para o quarteto de origem fluminense que se profissionalizou em 1965, embora já militasse no Centro Popular de Cultural (CPC) de Niterói (RJ), inicialmente como trio, desde 1962. Além de ser o primeiro disco do grupo após a saída de cena de Antônio José Waghabi Filho (14 de novembro de 1943 - 8 de agosto de 2012), o Magro, criador da identidade vocal do MPB4, O sonho, a vida, a roda viva! renova e expande o repertório do quarteto com 13 músicas inéditas de compositores identificados com os ritmos do Brasil. Desde o álbum 4 coringas (Barclay, 1984), lançado há longos 32 anos, o MPB4 não apresentava um disco com repertório inteiramente inédito. Idealmente, O sonho, a vida, a roda viva! deve ser ouvido sem comparações com os discos do período 1966-1984, fase áurea do MPB4, para que possa ser avaliado no atual contexto do quarteto. "Pra que pensar no que ficou pra trás? / Ver a vida no retrovisor? / ... / Sai da frente que agora é que a fila vai andar / O que é passado, meu bem / Valeu pra comprovar / Jornal de ontem, nem pensar", pondera o grupo em versos do sincopado samba Jornal de ontem (Sérgio Santos e Joyce Moreno), cujo arranjo vocal (de Miltinho) remete na introdução à pioneira modernidade vocal do grupo Os Cariocas. "Eu sou pipa ao vento a voar / Vivo esse momento / Enquanto o tempo me levar", reitera o MPB4 no lirismo dos versos de A pipa e o tempo (Dalmo Medeiros e Cacau Castro). Sim, os tempos são outros. O próprio grupo já é outro, sendo atualmente formado por Aquiles Reis, Dalmo Medeiros (convidado em 2004 a ocupar o lugar do dissidente Ruy Faria), Miltinho e Paulo Malaguti Pauleira (substituto de Magro). E, por fim, a música brasileira já é outra. A produção da MPB nas décadas de 1960 e 1970 paira acima dos tempos e modismos como uma das mais vigorosas da história da música brasileira. O repertório recolhido pelo MPB4 resulta sem força no confronto com a produção daqueles anos áureos. O que não significa que não haja várias preciosidades entre as 13 músicas do disco. Compositor lançado pelo MPB4 no álbum Palhaços e reis (Philips, 1974), Guinga contribui com Brasileia, baião surreal feito em parceria com o talentoso Thiago Amud. Com a mesma espirituosidade e ainda na seara nordestina, o baião Ateu é tu (Rafael Altério e Celso Viáfora) profana a hierarquia das instituições religiosas. Já o samba Desossado - parceria de João Bosco com Francisco Bosco - sobe o morro com as pernas tortas do Brasil retratado na letra com alta dose de crítica social. Já a Valsa do baque virado (Mario Adnet e João Cavalcanti) adentra os salões europeus do Brasil colonial com evocações da pernambucana nação do maracatu. Outra reminiscência de tempos imemoriais, Maxixe (Fred Martins e Alexandre Lemos) evoca a cadência manemolente do ritmo que batiza o tema. Contudo, o MPB4 canta e vive o Brasil de hoje, ainda que, ao término do disco, faça o inventário da jornada cinquentenária em A voz na distância (Paulo Malaguti Pauleira). Mas o Brasil do MPB4 extrapola as fronteiras do centros urbanos. Tanto que Milagres (Breno Ruiz e Paulo César Pinheiro) poderia ser a trilha de uma folia de reis de um interior que insiste em ser (também) folclórico. Bem produzido por Miltinho e Paulo Malaguti Pauleira, que se revezaram na criação dos arranjos vocais (elaborados com requinte que preserva a identidade vocal do MPB4, aludindo por vezes às vozes de Magro), O sonho, a vida, a roda viva! ostenta arranjos do pianista Gilson Peranzzetta. Na parte dos arranjos vocais, vale mencionar a embaraçada teia de voz que valoriza a metalinguística Trança de cipó (Renato Rocha). Ainda dentro do universo metalinguístico, Harmonia (Miltinho, Sirlan e Paulo César Pinheiro) dá o recado humanista com outro belo arranjo vocal (de Miltinho): "Rancor, perdão / São acordes de opção / Amar é harmonizar / O coração". No mesmo tom afetivo, o gaúcho Vitor Ramil cai no samba Filigrana e reitera em verso que "O amor é filigrana fácil de perder". Mesmo com melodia de menor estatura dentre a safra de 13 músicas inéditas do álbum, A ilha (Kleiton Ramil e Kledir Ramil) - canção orquestrada com as cordas do Quarteto Radamés Gnattali - ajuda o MPB4 a olhar em frente neste renovador álbum em que, descartando o jornal de ontem, o quarteto se nega a reportar velhas novidades musicais, soando com pipa ao vento a voar no tempo presente.
5 comentários:
♪ Em mais de um sentido, o álbum 50 anos MPB4 - O sonho, a vida, a roda viva! representa uma retomada para o quarteto de origem fluminense que se profissionalizou em 1965, embora já militasse no Centro Popular de Cultural (CPC) de Niterói (RJ), inicialmente como trio, desde 1962. Além de ser o primeiro disco do grupo após a saída de cena de Antônio José Waghabi Filho (14 de novembro de 1943 - 8 de agosto de 2012), o Magro, criador da identidade vocal do MPB4, O sonho, a vida, a roda viva! renova e expande o repertório do quarteto com 13 músicas inéditas de compositores identificados com os ritmos do Brasil. Desde o álbum 4 coringas (Barclay, 1984), lançado há longos 32 anos, o MPB4 não apresentava um disco com repertório inteiramente inédito. Idealmente, O sonho, a vida, a roda viva! deve ser ouvido sem comparações com os discos do período 1966-1984, fase áurea do MPB4, para que possa ser avaliado no atual contexto do quarteto. "Pra que pensar no que ficou pra trás? / Ver a vida no retrovisor? / ... / Sai da frente que agora é que a fila vai andar / O que é passado, meu bem / Valeu pra comprovar / Jornal de ontem, nem pensar", pondera o grupo em versos do sincopado samba Jornal de ontem (Sérgio Santos e Joyce Moreno), cujo arranjo vocal (de Miltinho) remete na introdução à pioneira modernidade vocal do grupo Os Cariocas. "Eu sou pipa ao vento a voar / Vivo esse momento / Enquanto o tempo me levar", reitera o MPB4 no lirismo dos versos de A pipa e o tempo (Dalmo Medeiros e Cacau Castro). Sim, os tempos são outros. O próprio grupo já é outro, sendo atualmente formado por Aquiles Reis, Dalmo Medeiros (convidado em 2004 a ocupar o lugar do dissidente Ruy Faria), Miltinho e Paulo Malaguti Pauleira (substituto de Magro). E, por fim, a música brasileira já é outra. A produção da MPB nas décadas de 1960 e 1970 paira acima dos tempos e modismos como uma das mais vigorosas da história da música brasileira. O repertório recolhido pelo MPB4 resulta sem força no confronto com a produção daqueles anos áureos. O que não significa que não haja várias preciosidades entre as 13 músicas do disco. Compositor lançado pelo MPB4 no álbum Palhaços e reis (Philips, 1974), Guinga contribui com Brasileia, baião surreal feito em parceria com o talentoso Thiago Amud. Com a mesma espirituosidade e ainda na seara nordestina, Ateu é tu (Rafael Altério e Celso Viáfora) profana a hierarquia das instituições religiosas. Já o samba Desossado - parceria de João Bosco com Francisco Bosco - sobe o morro com as pernas tortas do Brasil retratado na letra com alta dose de crítica social. Já a Valsa do baque virado (Mario Adnet e João Cavalcanti) adentra os salões europeus do Brasil colonial com evocações da pernambucana nação do maracatu. Outra reminiscência de tempos imemoriais, Maxixe (Fred Martins e Alexandre Lemos) evoca a cadência manemolente do ritmo que batiza o tema. Contudo, o MPB4 canta e vive o Brasil de hoje, ainda que, ao término do disco, faça o inventário da jornada cinquentenária em A voz na distância (Paulo Malaguti Pauleira). Mas o Brasil do MPB4 extrapola as fronteiras do centros urbanos. Tanto que Milagres (Breno Ruiz e Paulo César Pinheiro) poderia ser a trilha de uma folia de reis de um interior que insiste em ser (também) folclórico.
Bem produzido por Miltinho e Paulo Malaguti Pauleira, que se revezaram na criação dos arranjos vocais (elaborados com requinte que preserva a identidade vocal do MPB4, aludindo por vezes às vozes de Magro), O sonho, a vida, a roda viva! ostenta arranjos do pianista Gilson Peranzzetta. Na parte dos arranjos vocais, vale mencionar a embaraçada teia de voz que valoriza a metalinguística Trança de cipó (Renato Rocha). Ainda dentro do universo metalinguístico, Harmonia (Miltinho, Sirlan e Paulo César Pinheiro) dá o recado humanista com outro belo arranjo vocal (de Miltinho): "Rancor, perdão / São acordes de opção / Amar é harmonizar / O coração". No mesmo tom afetivo, o gaúcho Vitor Ramil cai no samba Filigrana e reitera em verso que "O amor é filigrana fácil de perder". Mesmo com melodia de menor estatura dentre a safra de 13 músicas inéditas do álbum, A ilha (Kleiton Ramil e Kledir Ramil) - canção orquestrada com as cordas do Quarteto Radamés Gnattali - ajuda o MPB4 a olhar em frente neste renovador álbum em que, descartando o jornal de ontem, o quarteto se nega a reportar velhas novidades musicais, soando com pipa ao vento a voar no tempo presente.
Mauro esse cd já está sendo vendido? Vou comprar.
Bernardo, sim, já está sendo vendido nas unidades do Sesc (cujo selo também tem produtos à venda na rede de livrarias Cultura). Abs, MauroF
Comprei o cd e realmente está sensacional. Gostei demais das músicas novas e dos arranjos vocais. Vida eterna ao MPB-4!
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