Título: Alma brasileira
Artista: Diogo Nogueira (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 25 de maio de 2016
Cotação: * *
♪ Já a caminho dos primeiros dez anos de carreira fonográfica, a serem festejados em 2017, Diogo Nogueira já está mais para o pagode genérico do grupo Sorriso Maroto do que para o samba nobre do pai do cantor e compositor carioca, João Nogueira (1941 - 2000). Isso quando não soa como mero cantor de barzinho que empilha sucessos alheios no roteiro para entreter plateias pouco ou nada exigentes. Essa má impressão foi recorrente ao longo do show gravado ao vivo na noite de ontem, 25 de maio de 2016, para gerar o DVD e CD ao vivo Alma brasileira, programados para o segundo semestre do ano. Transformado em galã do samba jovem por conta da fina estampa, Diogo vem se debatendo entre os sambas dos mais frutíferos quintais cariocas e os triviais pagodes românticos. Chegou até a gravar magistral álbum com o bandolinista Hamilton de Holanda, Bossa negra (Universal Music, 2014), mas, na sequência, recuou e voltou a dar voz ao samba mais banal no álbum solo Porta-voz da alegria (EMI / Universal Music, 2015). O projeto Alma brasileira deriva do show da turnê deste disco de 2015. Mas delimita o início de novo trabalho fonográfico na carreira de Diogo. Sob a direção musical de Boris Farias, o cantor permaneceu em zona de conforto que acabou minimizando o valor dos nítidos progressos vocais do artista. Diogo está cada vez mais desenvolto em cena, dominando o palco e a plateia. A voz já soa expandida, em nada lembrando o intérprete inseguro dos primeiros shows. Por isso mesmo, é pena que tudo isso - e por tudo inclua-se na conta, além da voz, uma banda de 13 músicas e um sexteto de cordas - tenha sido posto em Alma brasileira a serviço de um repertório que diminui a relevância de Diogo Nogueira no universo pop nacional. A exemplo de Pé na areia (Rodrigo Leite, Diogo Leite e Caíque), as três músicas inéditas do roteiro estão mais para pagode populista - que lança mão de romantismo trivial para prender a atenção do público feminino do artista - do que para samba da estirpe de João Nogueira e Zeca Pagodinho, a cujo repertório Diogo recorreu várias vezes ao longo do show (clique aqui para ler o roteiro completo da gravação ao vivo). Com o pretexto de fazer no show uma "homenagem à música brasileira", em conceito tão vago quando fluido, Diogo derrapa sobretudo quando se afasta do universo do samba e passar a dar voz a sucessos da MPB como se o palco da casa Vivo Rio fosse um barzinho. Apesar dos evidentes progressos vocais, Diogo não tem maturidade emocional como cantor para encarar Beijo partido (Toninho Horta, 1975). Ele canta a música em tons demasiadamente altos, inadequados ao ritmo de samba-canção evidenciado pelo arranjo. E o que dizer da lamentável abordagem pagodeira de Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967)? Nem o grupo Sambô faria pior. Sim, Diogo já solta bem a voz nas estradas, mas essa voz parece ignorar o sentimento que há nos versos que canta. Foi difícil identificar a delicadeza poética de Codinome beija-flor (Cazuza, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias, 1985) entre os teclados de Dodô Moraes e as cordas. A interpretação exibicionista de Sangrando (Gonzaguinha, 1980) também exemplificou o clima de barzinho, acentuado quando, após um dueto protocolar com Maria Rita em Beiral (Djavan, 1986), Diogo encadeou outros três sambas do compositor alagoano Djavan - Flor de lis (1976), Avião (1989) e Fato consumado (1975) - em medley que, por mais que tenha surtido efeito com o público, reiterou o tom populista do show dirigido por Raoni Carneiro com Afonso Carvalho e com o próprio Diogo Nogueira. Sem falar que Avião pousou mal no canto de Diogo. Mas isso pouco importou para o público cativo que, em determinado momento, ficou acalorado e gritou para o cantor-galã tirar a camisa. "Deliciosas", retribuiu Diogo em outro momento, fazendo charme e o jogo de sedução da plateia. O clima foi mesmo de barzinho. Não foi à toa que, já perto do fim do show, Diogo lançou mão até de infalível sucesso de Tim Maia (1942 - 1998), O descobridor dos sete mares (Michel e Gilson Mendonça, 1983), para fazer o público dançar. Em sintonia com o conceito genérico, os breves textos ditos em cena pelo cantor soaram rasos. Em contrapartida, Diogo - justiça seja feita - encontrou o tom certo de dois sambas de Toninho Geraes com Paulinho Lima, Alma boêmia (2010) e Se a fila andar (2014), sucessos dos pagodes cariocas. Entre oito músicas do trivial álbum Porta-voz da alegria, Inquilino do universo (Serafim Adriano e Liette de Souza, 1982) - tema do repertório do cantor fluminense Roberto Ribeiro (1940 - 1996) revivido por Diogo em tom forrozeiro - e Cabô, meu pai (Moacyr Luz, Aldir Blanc e Luiz Carlos da Vila, 2003) - sobressaíram no roteiro por fugir do trilho óbvio do show. No bis, a participação vivaz de Beth Carvalho - em dois sambas carnavalizantes lançados pela cantora em álbum de 1983, Caciqueando (Noca da Portela) e Firme e forte (Efson e Nei Lopes) - valorizaram a gravação pela simples presença da cantora, referência de samba da melhor qualidade. O samba com o qual, aliás, Diogo recorreu na sequência do bis ao cantar medley que alocou vários sucessos da geração de sambistas projetados entre as décadas de 1970 e 1980 na quadra do bloco Cacique de Ramos. Almir Guineto, Jorge Aragão, Sombrinha e Zeca Pagodinho sempre cultivaram samba mais nobre do que o pagode a que Diogo Nogueira tem dado preferência nos álbuns da discografia solo. Alma brasileira - show gravado ao vivo com agilidade (em que pesem as pausas para secar o rosto do cantor) e apenas duas repetições (Codinome beija-flor e Sangrando) - é um produto feito de acordo com as leis do mercado fonográfico e da indústria da música. Como mostrou no disco e show Bossa negra (2014), Diogo Nogueira pode mais. Contudo, ao contrário do pai João Nogueira, ele parece ter submetido o poder da criação às leis do mercado.
8 comentários:
♪ Já a caminho dos primeiros dez anos de carreira fonográfica, a serem festejados em 2017, Diogo Nogueira já está mais para o pagode genérico do grupo Sorriso Maroto do que para o samba nobre do pai do cantor e compositor carioca, João Nogueira (1941 - 2000). Isso quando não soa como mero cantor de barzinho que empilha sucessos alheios no roteiro para entreter plateias pouco ou nada exigentes. Essa má impressão foi recorrente ao longo do show gravado ao vivo na noite de ontem, 25 de maio de 2016, para gerar o DVD e CD ao vivo Alma brasileira, programados para o segundo semestre do ano. Transformado em galã do samba jovem por conta da fina estampa, Diogo vem se debatendo entre os sambas dos mais frutíferos quintais cariocas e os triviais pagodes românticos. Chegou até a gravar magistral álbum com o bandolinista Hamilton de Holanda, Bossa negra (Universal Music, 2014), mas, na sequência, recuou e voltou a dar voz ao samba mais banal no álbum solo Porta-voz da alegria (EMI / Universal Music, 2015). O projeto Alma brasileira deriva do show da turnê deste disco de 2015. Mas delimita o início de novo trabalho fonográfico na carreira de Diogo. Sob a direção musical de Boris Farias, o cantor permaneceu em zona de conforto que acabou minimizando o valor dos nítidos progressos vocais do artista. Diogo está cada vez mais desenvolto em cena, dominando o palco e a plateia. A voz já soa expandida, em nada lembrando o intérprete inseguro dos primeiros shows. Por isso mesmo, é pena que tudo isso - e por tudo inclua-se na conta, além da voz, uma banda de 13 músicas e um sexteto de cordas - tenha sido posto em Alma brasileira a serviço de um repertório que diminui a relevância de Diogo Nogueira no universo pop nacional. A exemplo de Pé na areia, as três músicas inéditas do roteiro estão mais para pagode populista - que lança mão de romantismo trivial para prender a atenção do público feminino do artista - do que para samba da estirpe de João Nogueira e Zeca Pagodinho, a cujo repertório Diogo recorreu várias vezes ao longo do show (clique aqui para ler o roteiro completo da gravação ao vivo). Com o pretexto de fazer no show uma "homenagem à música brasileira", em conceito tão vago quando fluido, Diogo derrapa sobretudo quando se afasta do universo do samba e passar a dar voz a sucessos da MPB como se o palco da casa Vivo Rio fosse um barzinho. Apesar dos evidentes progressos vocais, Diogo não tem maturidade emocional como cantor para encarar Beijo partido (Toninho Horta, 1975). Ele canta a música em tons demasiadamente altos, inadequados ao ritmo de samba-canção evidenciado pelo arranjo. E o que dizer da lamentável abordagem pagodeira de Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967)? Nem o grupo Sambô faria pior. Sim, Diogo já solta bem a voz nas estradas, mas essa voz parece ignorar o sentimento que há nos versos que canta. Foi difícil identificar a delicadeza poética de Codinome beija-flor (Cazuza, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias, 1985) entre os teclados de Dodô Moraes e as cordas. A interpretação exibicionista de Sangrando (Gonzaguinha, 1980) também exemplificou o clima de barzinho, acentuado quando, após dueto burocrático com Maria Rita em Beiral (Djavan, 1986), Diogo encadeou outros três sambas do compositor alagoano Djavan - Flor de lis (1976), Avião (1989) e Fato consumado (1975) - em medley que, por mais que tenha surtido efeito com o público, reiterou o tom populista do show dirigido por Raoni Carneiro com Afonso Carvalho e com o próprio Diogo Nogueira. Sem falar que Avião pousou mal no canto de Diogo. Mas isso pouco importou para o público cativo que, em determinado momento, ficou acalorado e gritou para o cantor-galã tirar a camisa. "Deliciosas", retribuiu Diogo em outro momento, fazendo charme e o jogo de sedução da plateia.
O clima foi mesmo de barzinho. Não foi à toa que, já perto do fim do show, Diogo lançou mão até de infalível sucesso de Tim Maia (1942 - 1998), O descobridor dos sete mares (Michel e Gilson Mendonça, 1983), para fazer o público dançar. Em sintonia com o conceito genérico, os breves textos ditos em cena pelo cantor soaram rasos. Em contrapartida, Diogo - justiça seja feita - encontrou o tom certo de dois sambas de Toninho Geraes com Paulinho Lima, Alma boêmia (2010) e Se a fila andar (2014), sucessos dos pagodes cariocas. Entre oito músicas do trivial álbum Porta-voz da alegria, Inquilino do universo (Serafim Adriano e Liette de Souza, 1982) - tema do repertório do cantor fluminense Roberto Ribeiro (1940 - 1996) revivido por Diogo em tom forrozeiro - e Cabô, meu pai (Moacyr Luz, Aldir Blanc e Luiz Carlos da Vila, 2003) - sobressaíram no roteiro por fugir do trilho óbvio do show. No bis, a participação vivaz de Beth Carvalho - em dois sambas carnavalizantes lançados pela cantora em álbum de 1983, Caciqueando (Noca da Portela) e Firme e forte (Efson e Nei Lopes) - valorizaram a gravação pela simples presença da cantora, referência de samba da melhor qualidade. O samba com o qual, aliás, Diogo recorreu na sequência do bis ao cantar medley que alocou vários sucessos da geração de sambistas projetados entre as décadas de 1970 e 1980 na quadra do bloco Cacique de Ramos. Almir Guineto, Jorge Aragão, Sombrinha e Zeca Pagodinho sempre cultivaram samba mais nobre do que o pagode a que Diogo Nogueira tem dado preferência nos álbuns da discografia solo. Alma brasileira - show gravado ao vivo com agilidade (em que pesem as pausas para secar o rosto do cantor) e apenas duas repetições (Codinome beija-flor e Sangrando) - é um produto feito de acordo com as leis do mercado fonográfico e da indústria da música. Como mostrou no disco e show Bossa negra (2014), Diogo Nogueira pode mais. Contudo, ao contrário do pai João Nogueira, ele parece ter submetido o poder da criação às leis do mercado.
Não sei se estou enganado, mas numa resenha a um disco de Diogo, Mauro comentou que ele precisava fazer uma opção entre aproximar-se da qualidade do pai ou cair no popular(esco).
Pela resenha, parece já ter feito a opção.
Livre arbítrio, né?
Felipe dos Santos Souza
Hilária a crítica. Diogo, como tantos outros, parece se preocupar mais com a aparência que com o conteúdo. Um dia talvez se dê conta.
Gozado sua crítica Mauro, até pq em todas suas publicações são raros os seus elogios, críticas construtivas são sempre muito bem aceitas, uma vez que seja de uma pessoa super entendida e atualizada com a música... Tudo na vida evolui e o samba de raiz a lá Zeca, João Nogueira e outros das antigas são sempre bom ser relembrados e respeitados, mas o artista tem ter sua referencia....!!!! E um artista tbm não vive só de referencia, tem que agradar a todos é um cantor bonito, jovem e com um potencial absurdo com referencia de seu pai, mas tbm tem que agradar o público jovem!!!! Suas críticas não são construtivas, vc é o tipo de crítico que o que agrada seus ouvidos é o certo é o sucesso e não é bem assim, acho que está na profissão errada!!!!
Nem sempre o que vc critica é o que pensamos, adorei a inovação do Diogo e um cantor não é como um jornalista que depende de certos furos pra sobreviver!!!! O que sustenta a receita de um cantor é agenda de show e o que faz sucesso é o populismo ( o que vc chamou de música de barzinho) então querido nem tudo que agrada seus ouvido é o que agrada os demais!!!!! Super infeliz sua crítica!!!!!!
A mensurar pelo português, logo se nota o nível cultural dos insurgentes. Mas, numa terra em que Anitta apresenta um programa chamado "Música Boa Ao Vivo", o que mais podemos esperar, não é mesmo?!
"Nem o Sambô faria pior", hahaha! Gritei!
Cara, eu quis chorar com esse negócio dele cantar Cazuza. E ele diz que foi um pedido da Lucinha. Fiquei boladíssimo.
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