♪ EDITORIAL - Maria Bethânia completa hoje, 18 de junho de 2016, 70 anos de vida sem perda do vigor profissional. O volume de trabalho sinaliza que o pulso criativo ainda pulsa como nos tempos idos da juventude. Ainda senhora da cena no teatro da canção, a intérprete baiana chega aos 70 anos com a mesma aura mítica e enigmática do início da carreira, cujas origens remontam a 1963, embora a contabilidade oficial estabeleça a data de 13 de fevereiro de 1965 como o marco zero de trajetória profissional que nunca perdeu o viço. Nessa data, Bethânia pousou no palco do espetáculo Opinião (1964 / 1965), na cidade do Rio de Janeiro (RJ), e desde então voou alto como o carcará que cruza os céus do sertão que ora se impõe como o oásis de Maria na fase mais recente da discografia. Como o carcará, Bethânia pegou a chance de substituir Nara Leão (1942 - 1989) no Opinião, matou a pau e comeu o público com as mãos, o olhar imperativo e a voz grave, árida. Um diamante bruto, mas verdadeiro, que Bethânia soube lapidar com o tempo. Aos 70 anos, a intérprete permanece esfinge. Em cena, exerce o habitual domínio sobre tudo e todos com a fome insaciável de palco. Fora de cena, preserva o controle sobre a vida e obra. De Bethânia, muito se fala, muito mais se imagina, mas pouco se sabe de fato. A imagem veiculada pela mídia tem a maquiagem usada pelas grandes estrelas da canção. Bethânia é uma em cena e é outra fora dela, embora ambas as personas - a da artista e a da cidadã - estejam amalgamadas pela personalidade forte e pelo temperamento difícil, indomado, que nortearam a obra da artista. Muitas cantoras - quase todas, na realidade - mudam de tom quando trocam de produtor. Bethânia até esboça sutis mudanças na sonoridade dos discos e na arquitetura dos shows. Mas sempre manteve o tom, o próprio tom, quaisquer que tenham sido os diretores dos espetáculos ou os produtores dos discos que fez ao longo de carreira que já soma efetivos 53 anos. Desde sempre, a menina dos olhos de Oyá foi a senhora dos ventos que comanda o enredo do próprio samba. Dona de si, sobreviveu às modas musicais e atravessou incólume todos os movimentos do mercado. Bethânia nunca deixou de ser fiel a si mesma. Saiu de Santo Amaro da Purificação (BA), mas a Santo Amaro natal nunca saiu dela. A menina baiana de Oyá ainda tem os santos, defeitos, encantos e a voz que Deus lhe deu. Talvez por isso mesmo, aos 70 anos, a cantora-orixá conserve o status de divindade reforçado pelas rugas sutis e pelos cabelos intencionalmente brancos. A nobreza da obra a redime das atitudes mundanas do cotidiano. Sua alteza Maria Bethânia Viana Teles Veloso é rainha, já entronizada no olimpo destinado às mais nobres cantoras do Brasil - e do mundo - de todos os tempos.
♪ EDITORIAL - Maria Bethânia completa hoje, 18 de junho de 2016, 70 anos de vida sem perda do vigor profissional. O volume de trabalho sinaliza que o pulso criativo ainda pulsa como nos tempos idos da juventude. Ainda senhora da cena no teatro da canção, a intérprete baiana chega aos 70 anos com a mesma aura mítica e enigmática do início da carreira, cujas origens remontam a 1963, embora a contabilidade oficial estabeleça a data de 13 de fevereiro de 1965 como o marco zero de trajetória profissional que nunca perdeu o viço. Nessa data, Bethânia pousou no palco do espetáculo Opinião (1964 / 1965), na cidade do Rio de Janeiro (RJ), e desde então voou alto como o carcará que cruza os céus do sertão que ora se impõe como o oásis de Maria na fase mais recente da discografia. Como o carcará, Bethânia pegou a chance de substituir Nara Leão (1942 - 1989) no Opinião, matou a pau e comeu o público com as mãos, o olhar imperativo e a voz grave, árida. Um diamante bruto, mas verdadeiro, que Bethânia soube lapidar com o tempo. Aos 70 anos, a intérprete permanece esfinge. Em cena, exerce o habitual domínio sobre tudo e todos com a fome insaciável de palco. Fora de cena, preserva o controle sobre a vida e obra. De Bethânia, muito se fala, muito mais se imagina, mas pouco se sabe de fato. A imagem veiculada pela mídia tem a maquiagem usada pelas grandes estrelas da canção. Bethânia é uma em cena e é outra fora dela, embora ambas as personas - a da artista e a da cidadã - estejam amalgamadas pela personalidade forte e pelo temperamento difícil, indomado, que nortearam a obra da artista. Muitas cantoras - quase todas, na realidade - mudam de tom quando trocam de produtor. Bethânia até esboça sutis mudanças na sonoridade dos discos e na arquitetura dos shows. Mas sempre manteve o tom, o próprio tom, quaisquer que tenham sido os diretores dos espetáculos ou os produtores dos discos que fez ao longo de carreira que já soma efetivos 53 anos. Desde sempre, a menina dos olhos de Oyá foi a senhora dos ventos que comanda o enredo do próprio samba. Dona de si, sobreviveu às modas musicais e atravessou incólume todos os movimentos do mercado. Bethânia nunca deixou de ser fiel a si mesma. Saiu de Santo Amaro da Purificação (BA), mas a Santo Amaro natal nunca saiu dela. A menina baiana de Oyá ainda tem os santos, defeitos, encantos e a voz que Deus lhe deu. Talvez por isso mesmo, aos 70 anos, a cantora-orixá conserve o status de divindade reforçado pelas rugas sutis e pelos cabelos intencionalmente brancos. A nobreza da obra a redime das atitudes mundanas do cotidiano. Sua alteza Maria Bethânia Viana Teles Veloso é rainha, já entronizada no olimpo destinado às mais nobres cantoras do Brasil - e do mundo - de todos os tempos.
ResponderExcluirEncantado texto, lido ao som da primeira versão de Rosa dos Ventos. Parabéns, Mauro. E nossa gratidão pela verve inspirada, certeira e coerente de sempre.
ResponderExcluirBeta Bethânia é rainha, de fato rainha. Mas em meu reino musical a rainha é outra, tão grande quanto,tão baiana quanto. O fato de ela nunca trocar o tom talvez seja a causa do meu desapego com a sua obra. É possível mudar o tom sem abrir mão da essência, acredito. Sempre foi a mesma Bethânia. É elogiável, mas uma pitada de novidade não faz mal a ninguém. De qualquer forma, dos grandes discos que coleciono três são dela. Vida longa à imortal!
ResponderExcluirPersonalidade díficil x nobreza da obra. Fico apenas com a última. Sempre brinco que Bethânia é uma artista que eu jamais pediria pra tirar uma foto caso o destino me permitisse encontra-la, pela imprevisibilidade da reação e a possibilidade da decepção. Prefiro conservar no imaginário, na fantasia, aquela espécie de carinho que alguns artistas inevitavelmente despertam na gente. Vida longa, Betha!
ResponderExcluirBETHÂNIA É.
ResponderExcluirA voz! Apenas!
ResponderExcluirA MAIOR!
ResponderExcluirNossa Senhora! Bethânia é uma artista magnificamente tão múltipla e todos esses aspectos interagem formando um todo tão especial que fica difícil - impossível, talvez - fragmentá-la, deter-se a um só aspecto. Ela propõe tantos universos e jeitos de percebê-la que um quase contradiz o outro. Acho que por isso, quem é importante nas artes do Brasil e até grandes artistas estrangeiros, de todas as expressões, têm um devotamento, encanto, paixão e reverência por ela assim como as pessoas comuns como eu. Fernanda Montenegro ao aceitar narrar um vídeo comemorativo dos 70 anos disse do prazer de falar sobre a "imensa Bethânia." Em tempos tão tristes e duros que vivemos, acho que mais brasileiros poderiam beber mais dessa fonte mágica e educadora que é a arte. Em especial da arte de Maria Bethânia! Vida longa e projetos lindos e emocionantes! Que bom tê-la!!!
ResponderExcluirQue maravilha de texto, Mauro!! Seu blog cada vez mais necessário para traduzir o sentimento que a obra de nossos artistas nos transmite. Parabéns e obrigado!
ResponderExcluirOlha, acho que só duas cantoras brasileiras podem dizer que fizeram tudo o que quiseram na carreira, altaneiras, sem se preocuparem com a onda ou com "serem populares": Nana Caymmi e a homenageada do texto.
ResponderExcluirAcho até que Bethânia se mostra até mais renovada hoje do que em tempos idos.
É controversa? Ô! Como bem diz o texto, "muito se fala, muito mais se imagina" - e a internet dá vazão a essa imaginação gigante, como prova o Bethânia Verde do Facebook e as tantas vezes em que ele cita que a dita cuja estaria "passada no ferro de Iansã". Sem contar a história do blog de poemas...
Mas, tirando tudo isso, sobra a cantora teatral. E a importância da obra é grande. Muito grande.
Parabéns pelos 70 anos.
Meu Top 5 pessoal:
- "Preconceito"
- O pout-pourri de marchinhas de Carnaval em "A cena muda" (que show!)
- "Mãe Maria"
- "Vida real"
- "O nome da cidade"
Felipe dos Santos Souza
P.S.: Ontem (18 de junho), Bethânia. Hoje, outro inquestionável cada vez mais questionado (que bom, unanimidades podem não ser burras mas são chatas): Chico Buarque e seus 72 anos.
70 anos de puro charme!!! Ela é a diva da nossa MPB...
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