Mauro Ferreira no G1

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domingo, 19 de junho de 2016

Casuarina chega firme e forte no disco '7' com 'trilhão de conexões' no samba

Resenha de álbum
Título: 7
Artista: Casuarina
Gravadora: Superlativa / Discole Música
Cotação: * * * 1/2

Após abordar o cancioneiro do centenário compositor baiano Dorival Caymmi (1914 - 2008) no oscilante álbum No passo de Caymmi (Superlativa, 2014), o grupo Casuarina voltou a demarcar território no samba carioca ao lançar, em dezembro de 2015, o single Queira ou não queira (João Cavalcanti e Alaan Monteiro). Este samba deu a primeira pista do que seria o sétimo álbum do quinteto formado em 2001 na cidade do Rio de Janeiro (RJ) por Daniel Montes (violão de sete cordas), Gabriel Azevedo (voz e percussão), João Cavalcanti (voz e percussão), João Fernando (bandolim e voz) e Rafael Freire (cavaquinho). 7 - o álbum lançado neste mês de junho de 2016 com repertório inédito e com distribuição da Discole Música - sucede Trilhos - Terra firme (Superlativa / Warner Music, 2011) na discografia autoral do Casuarina, mantendo e, de certa forma, ampliando as conquistas autorais do grupo. 7 por vezes pisa no terreirão do samba com passos tradicionais, dados na cadência de composições como Firme e forte (Daniel Montes, Gabriel Azevedo e Sérgio Fonseca) e Rasteira (Gabriel Azevedo). Ao mesmo tempo, 7 vai além do que se ouve numa roda de samba da Lapa, o bairro carioca onde o Casuarina se criou. Com levadas, síncopes e caminhos melódicos mais imprevistos, Ambidestra (Daniel Montes e João Cavalcanti) é a música que abre 7 em trilho que conduz o Casuarina a um lugar pouco ou nada explorado pelo quinteto. "Nem tente me alcançar / Eu sou um turbilhão de fragmentos / E mais de um trilhão de conexões", avisam versos deste inusitado tema que abre o álbum gravado em fevereiro deste ano de 2016 na Gargolândia, estúdio mantido por Rafael Alterio em fazenda do interior do Estado de São Paulo (somente o single Queira ou não queira foi formatado em 2015). Não há obviamente trilhão de conexões em 7, mas há sutis toques que renovam, com brandura, o som do grupo. Especialmente insinuante em Sumidouro (João Cavalcanti e João Martins) e em Deixa sangrar (Daniel Montes, Gabriel Azevedo e Sérgio Azevedo), o toque do piano de Nelson Freitas é um deles. A abertura de parceria de João Cavalcanti - que assina sozinho sambas como Quiproquó - com o bamba Moacyr Luz é outro ponto de renovação que eleva a cotação de 7. Cantado por Cavalcanti com a adesão da cantora Maria Rita, Eu já posso me chamar saudade é samba melancólico, interiorizado, que remói dor de amor desfeito, na contramão da luminosidade que pauta Quando você deixar, samba da lavra solitária de João Cavalcanti. A matemática do amor também soma em 7 por estabelecer a conexão de Gabriel Azevedo com Aluízio Machado, bamba carioca que abre parceria com o percussionista do Casuarina. Já Casa minha (João Fernando) habita um terreno que extrapola a fronteira carioca, caminhando na melodia e na letra pelo interior do Brasil. Música de tom afro-baiano lançada na voz da cantora paulistana Fabiana Cozza no álbum Partir (Agô Produções, 2015), Chicala (João Cavalcanti) vai mais além e traz o suingue angolano para 7, reverberando com o calor da percussão a verve cabocla do semba enterrado no ouro da alma brasileira. Pé de vento (Daniel Montes, Rafael Freire e Sérgio Fonseca) ajuda a fincar 7 no chão do quintal nativo em que o Casuarina planta este sétimo da discografia iniciada em 2004. Aos 15 anos de vida, o grupo carioca segue firme e forte por um trilho que tem conduzido o quinteto a um lugar digno - e próprio - no terreirão do samba.

2 comentários:

Mauro Ferreira disse...

♪ Após abordar o cancioneiro do centenário compositor baiano Dorival Caymmi (1914 - 2008) no oscilante álbum No passo de Caymmi (Superlativa, 2014), o grupo Casuarina voltou a demarcar território no samba carioca ao lançar, em dezembro de 2015, o single Queria ou não queira (João Cavalcanti e Alaan Monteiro). Este samba deu a primeira pista do que seria o sétimo álbum do quinteto formado em 2001 na cidade do Rio de Janeiro (RJ) por Daniel Montes (violão de sete cordas), Gabriel Azevedo (voz e percussão), João Cavalcanti (voz e percussão), João Fernando (bandolim e voz) e Rafael Freire (cavaquinho). 7 - o álbum lançado neste mês de junho de 2016 com repertório inédito e com distribuição da Discole Música - sucede Trilhos - Terra firme (Superlativa / Warner Music, 2011) na discografia autoral do Casuarina, mantendo e, de certa forma, ampliando as conquistas autorais do grupo. 7 por vezes pisa no terreirão do samba com passos tradicionais, dados na cadência de composições como Firme e forte (Daniel Montes, Gabriel Azevedo e Sérgio Fonseca) e Rasteira (Gabriel Azevedo). Ao mesmo tempo, 7 vai além do que se ouve numa roda de samba da Lapa, o bairro carioca onde o Casuarina se criou. Com levadas, síncopes e caminhos melódicos mais imprevistos, Ambidestra (Daniel Montes e João Cavalcanti) é a música que abre 7 em trilho que conduz o Casuarina a um lugar pouco ou nada explorado pelo quinteto. "Nem tente me alcançar / Eu sou um turbilhão de fragmentos / E mais de um trilhão de conexões", avisam versos deste inusitado tema que abre o álbum gravado em fevereiro deste ano de 2016 na Gargolândia, estúdio mantido por Rafael Alterio em fazenda do interior do Estado de São Paulo (somente o single Queira ou não queira foi formatado em 2015). Não há obviamente trilhão de conexões em 7, mas há sutis toques que renovam, com brandura, o som do grupo. Especialmente insinuante em Sumidouro (João Cavalcanti e João Martins) e em Deixa sangrar (Daniel Montes, Gabriel Azevedo e Sérgio Azevedo), o toque do piano de Nelson Freitas é um deles. A abertura de parceria de João Cavalcanti - que assina sozinho sambas como Quiproquó - com o bamba Moacyr Luz é outro ponto de renovação que eleva a cotação de 7. Cantado por Cavalcanti com a adesão da cantora Maria Rita, Eu já posso me chamar saudade é samba melancólico, interiorizado, que remói dor de amor desfeito, na contramão da luminosidade que pauta Quando você deixar, samba da lavra solitária de João Cavalcanti. A matemática do amor também soma em 7 por estabelecer a conexão de Gabriel Azevedo com Aluízio Machado, bamba carioca que abre parceria com o percussionista do Casuarina. Já Casa minha (João Fernando) habita um terreno que extrapola a fronteira carioca, caminhando na melodia e na letra pelo interior do Brasil. Música de tom afro-baiano lançada na voz da cantora paulistana Fabiana Cozza no álbum Partir (Agô Produções, 2015), Chicala (João Cavalcanti) vai mais além e traz o suingue angolano para 7, reverberando com o calor da percussão a verve cabocla do semba enterrado no ouro da alma brasileira. Pé de vento (Daniel Montes, Rafael Freire e Sérgio Fonseca) ajuda a fincar 7 no chão do quintal nativo em que o Casuarina planta este sétimo da discografia iniciada em 2004. Aos 15 anos de vida, o grupo carioca segue firme e forte por um trilho que tem conduzido o quinteto a um lugar digno - e próprio - no terreirão do samba.

coolk disse...

Conversei com o João Cavalcanti no ano passado sobre a coragem que falta aos novos sambistas. Eles mostraram isso nesse disco. Fugir do mais do mesmo. A MPB precisa de ações corajosas, tanto do mercado, quanto dos artistas. Talento nós temos e o Casuarina provou isso!