♪ Formatado pelo produtor Kassin, o
Paraíso de Fernando Temporão soa artificial. E não por conta de uma suposta inaturalidade da guinada pop deste cantor, compositor e músico carioca que começou a transitar nos anos 2000 por universo musical ligado ao samba de cadência tradicional, tendo gravado discos como integrante do grupo Sereno da Magrudada (
Modificado, Biscoito Fino, 2010) e como parceiro de João Callado em repertório que remeteu a tempos imemoriais (
Primeira nota, Biscoito Fino, 2012). A súbita migração para a cena contemporânea carioca até soou natural no primeiro bom álbum solo do artista,
Dentro da gaveta da alma da gente (Independente / Tratore, 2013), disco em que os produtores Kassin e Alberto Continentino sustentaram a leveza pop de Temporão com sonoridade que, por vezes, pareceu mais sedutora do que o repertório autoral do artista. Em
Paraíso, Temporal recorre novamente ao toque mágico de Kassin, mas abre o leque de parceiros - compondo com nomes como Ava Rocha, Bruno Di Lullo, César Lacerda e Filipe Catto - sem que a expansão das conexões resulte proveitosa no cômputo final do disco.
Paraíso é menos solar do que o antecessor, esboçando um discurso político ao longo das onze músicas do repertório inteiramente autoral. Só que tal discurso acaba esvaziado pela sonoridade algo etérea arquitetada pelo produtor. É nesses momentos que
Paraíso soa mais artificial. Basta comparar a abordagem letárgica de
Um milhão de novas palavras (Fernando Temporão e César Lacerda, 2015) com o vibrante registro roqueiro feito por Filipe Catto no álbum
Tomada (Agência de Música, 2015). A sonoridade do disco dilui o discurso de Temporão, geralmente mais inspirado como letrista do que como melodista. A poesia sintética de
Dois - parceria de Temporão com Bruno Di Lullo - fecha a viagem e o disco com beleza (inclusive melódica) que parece mais rarefeita ao longo da caminhada traçada por
Paraíso numa esmaecida rota musical que inclui soul sem alma em
Manto (Fernando Temporão), tangencia a batida do ijexá em
Tudo o que é tristeza (Fernando Temporão e Thiago Camelo) e faz incursão protocolar pela levada do carimbó inserida em
Afinal (Fernando Temporão e César Lacerda). Falta vida,
punch, ausências detectadas na melodia da música-título
Paraíso - cuja letra de Ava Rocha demarca território humanista, citando o índio urbano retratado na capa do disco com a exposição de pintura a nanquim da artista plástica paraense Elisa Arruda - e na arquitetura de
Sem fantasia, outra parceria de Temporão com César Lacerda. Em contrapartida, há vida e há alma na atmosfera lúdica de
No ar (Fernando Temporão e Alberto Continentino) e na pulsação roqueira que anima
Dia de seguir (Fernando Temporão e Thiago Camelo). Pulsação que as guitarras de Temporão e de Kassin injetam em
Exílios sem disfarçar o reduzido poder de sedução dessa música feita por Temporão com Filipe Catto.
Paraíso é álbum feito com grifes como a de Kassin e a do acordeom de Marcelo Jeneci, cujo toque insinua que a faixa
Dança (Fernando Temporão) pode migrar ora para universo ruralista ora para o salão de um tango sem que nenhuma das duas opções se concretize no arranjo. Enfim, há algo de artificial neste
Paraíso tropical ora etéreo, ora politizado, ora roqueiro, mas sempre pop em viagem que por vezes soa bem cansativa.
♪ Formatado pelo produtor Kassin, o Paraíso de Fernando Temporão soa artificial. E não por conta de uma suposta inaturalidade da guinada pop deste cantor, compositor e músico carioca que começou a transitar nos anos 2000 por universo musical ligado ao samba de cadência tradicional, tendo gravado discos como integrante do grupo Sereno da Magrudada (Modificado, Biscoito Fino, 2010) e como parceiro de João Callado em repertório que remeteu a tempos imemoriais (Primeira nota, Biscoito Fino, 2012). A súbita migração para a cena contemporânea carioca até soou natural no primeiro bom álbum solo do artista, Dentro da gaveta da alma da gente (Independente / Tratore, 2013), disco em que os produtores Kassin e Alberto Continentino sustentaram a leveza pop de Temporão com sonoridade que, por vezes, pareceu mais sedutora do que o repertório autoral do artista. Em Paraíso, Temporal recorre novamente ao toque mágico de Kassin, mas abre o leque de parceiros - compondo com nomes como Ava Rocha, Bruno Di Lullo, César Lacerda e Filipe Catto - sem que a expansão das conexões resulte proveitosa no cômputo final do disco. Paraíso é menos solar do que o antecessor, esboçando um discurso político ao longo das onze músicas do repertório inteiramente autoral. Só que tal discurso acaba esvaziado pela sonoridade algo etérea arquitetada pelo produtor. É nesses momentos que Paraíso soa mais artificial. Basta comparar a abordagem letárgica de Um milhão de novas palavras (Fernando Temporão e César Lacerda, 2015) com o vibrante registro roqueiro feito por Filipe Catto no álbum Tomada (Agência de Música, 2015). A sonoridade do disco dilui o discurso de Temporão, geralmente mais inspirado como letrista do que como melodista. A poesia sintética de Dois - parceria de Temporão com Bruno Di Lullo - fecha a viagem e o disco com beleza (inclusive melódica) que parece mais rarefeita ao longo da caminhada traçada por Paraíso numa esmaecida rota musical que inclui soul sem alma em Manto (Fernando Temporão), tangencia a batida do ijexá em Tudo o que é tristeza (Fernando Temporão e Thiago Camelo) e faz incursão protocolar pela levada do carimbó inserida em Afinal (Fernando Temporão e César Lacerda). Falta vida, punch, ausências detectadas na melodia da música-título Paraíso - cuja letra de Ava Rocha demarca território humanista, citando o índio urbano retratado na capa do disco com a exposição de pintura a nanquim da artista plástica paraense Elisa Arruda - e na arquitetura de Sem fantasia, outra parceria de Temporão com César Lacerda. Em contrapartida, há vida e há alma na atmosfera lúdica de No ar (Fernando Temporão e Alberto Continentino) e na pulsação roqueira que anima Dia de seguir (Fernando Temporão e Thiago Camelo). Pulsação que as guitarras de Temporão e de Kassin injetam em Exílios sem disfarçar o reduzido poder de sedução dessa música feita por Temporão com Filipe Catto. Paraíso é álbum feito com grifes como a de Kassin e a do acordeom de Marcelo Jeneci, cujo toque insinua que Dança (Fernando Temporão) pode migrar ora para um universo ruralista ora para o salão de um tango sem que nenhuma das duas opções se concretize no arranjo. Enfim, há algo de artificial neste Paraíso tropical ora etéreo, ora politizado, ora roqueiro, mas sempre pop em viagem que por vezes soa bem cansativa.
ResponderExcluirengraçado que você falou mal do disco do Felipe Catto, agora usa o mesmo disco como parâmetro pra falar mal da gravação do Temporão, vá entender...
ResponderExcluirOuvi muito o disco na última semana. Por gosto mesmo. É bom de ouvir, de deixar tocando, etc. Nas primeiras vezes achei melhor do que agora, depois da insistência. Também acho algumas melodias muito parecidas, mas não exatamente fracas. A música feita com a Ava é ótima -- bem melhor que o single escolhido, aliás. "No ar" é outra que gosto muito. E discordo que a gravação de "Um milhão de novas palavras" tenha ficado melhor com o Catto. Prefiro na voz do Temporão e acredito que a letra funcionou muito melhor.
ResponderExcluirEmbora goste do disco, também percebo um trato artificial na produção (e eu poderia dizer isto mesmo sem ter escutado, porque minha birra com o Kassin já está nesse nível). Me incomoda, ainda, a necessidade de atribuir valores, conceitos e explicações. Tem que ter cuidado pra não entrar numa onda Jorge Vercillo.
No meio de tantos cantautores de vozes e interpretações sem qualquer expressividade, essa coisa Cazuza no canto do Temporão também me desperta interesse. Repito: é bom de ouvir.
Acompanho o trabalho do Temporão desde o excelente 'Primeira Nota' com o João Callado e, engraçado, achei que 'Paraíso' é o resultado mais maduro da carreira dele. Gostei muito de 'Dança', 'Manto' e 'Paraíso', que é o ponto mais alto do disco. Acho que a produção do Kassin foi mediana, não agregou, não sei porque Temporão insistiu nele, em comparação com a qualidade das músicas. Mas achei essa crítica do Mauro muito pesada.
ResponderExcluir