Título: MPB4 50 anos - O sonho, a vida, a roda viva!
Artista: MPB4 (em foto de Camilla Guimarães / Divulgação)
Local: Teatro Serrador (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 2 de junho de 2016
Cotação: * * * *
♪ Show em cartaz no Teatro Serrador, no Rio de Janeiro, às quintas-feiras de junho de 2016
♪ Nas rimas e ritmos do estilo vocal com que se impôs em cena há cerca de 50 anos, o MPB4 se mostra um senhor ainda bonito no show comemorativo das cinco décadas de trajetória profissional do grupo fluminense gerado em Niterói (RJ) a partir de 1962. No show que vai ficar em cartaz durante às quintas-feiras deste mês de junho de 2016 no revitalizado Teatro Serrador, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o MPB4 faz uma oração ao tempo que o mantém vivo no som do estribilho. Não por acaso, Oração ao tempo - canção filosófica de Caetano Veloso lançada na voz do compositor em 1979 e regravada dois anos depois pelo MPB4 no álbum Tempo tempo (Ariola, 1981) - é cantada a capella pelo quarteto no show, na sequência do charmoso número inicial em que o grupo simula a cena em que defendeu Roda viva (Chico Buarque, 1967) em outubro de 1967 no palco do Teatro Paramount, em São Paulo (SP), na final do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. O simulacro atiça a memória afetiva de quem conhece a história do MPB4. Contudo, o nível de vínculo do grupo com a música brasileira já é outro. Por conta do giro incessante e irrefreável da roda viva, a cristalizada imagem de 1967 já não pode ser refeita com precisão. Chico Buarque não está no número. Assim como o dissidente Ruy Faria, integrante da formação original do MPB4 que saiu do grupo em 2004. Sem falar que Antônio José Waghabi Filho (14 de novembro de 1943 - 8 de agosto de 2012) - o Magro, arranjador que delineou a assinatura vocal do MPB4 - já saiu de cena, ainda que Magro seja uma voz presente no show, como Paulo Malaguti Pauleira ressaltou na estreia carioca feita na noite de ontem, 2 de junho de 2016, para público amigo. Convidado em 2012 a substituir o insubstituível Magro, Malaguti forma atualmente o MPB4 com Aquiles Reis e Miltinho - os dois remanescentes da formação original do grupo - e com Dalmo Medeiros, que ocupa o lugar de Ruy Faria. O tempo é outro. Metade dos integrantes já é outra. Mas a identidade vocal do MPB4 - justiça seja feita - está toda lá. No medley do bis, quando o grupo vocaliza Porto (Dori Caymmi, 1975), tema que gravou para a trilha sonora da novela Gabriela (TV Globo, 1975), o MPB4 parece contínuo e jovial como o tempo para quem ora em cena. E, talvez por isso mesmo, o passado vença o presente no giro da roda do tempo. Em que pese o caráter retrospectivo, o show MPB4 50 anos - O sonho, a vida, a roda viva! também tem como mote o lançamento do primeiro álbum de músicas inéditas do grupo em 32 anos. Contudo, das 13 inéditas do revigorante disco, somente seis dão as caras em cena. Sem tempo para ter se familiarizado com o repertório do álbum MPB4 50 anos - O sonho, a vida, a roda viva!, lançado em maio pelo Selo Sesc, o público da estreia carioca recebeu com justificável frieza petardos como o samba Desossado (João Bosco e Francisco Bosco, 2016) e os baiões Ateu é tu (Rafael Altério e Celso Viáfora, 2016) e Brasileia (Guinga e Thiago Amud, 2016). São ótimas músicas, afins como o repertório politizado que norteou a trajetória fonográfica do MPB4 nas décadas de 1960 e 1970. Tanto que as músicas inéditas estão bem costuradas no roteiro com sucessos antigos. A costura é feita pela linha da afinidade temática. Os sambas Desossado e Partido alto (Chico Buarque, 1972) estão linkados pelas misérias da sociedade humana. Baião de Guinga, Brasileia é a deixa para que o MPB4 celebre o compositor carioca que teve a honra de lançar em disco, gravando duas parcerias de Guinga com Paulo César Pinheiro no álbum Palhaços e reis (Philips, 1974). Com Miltinho ao violão, o grupo remói o choro triste de Conversa com o coração (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1974), uma dessas duas composições que apresentaram Guinga ao mercado fonográfico há 42 anos. Mas é Chico Buarque o compositor que mais girou com o MPB4 na roda viva desses 50 anos. O que justifica o fato de Chico ser o compositor de sete das 27 músicas encadeadas no roteiro seguido pelo MPB4 com o toque da banda formada por João Faria (baixo), Marcos Feijão (bateria), Pedro Reis (violão, guitarra e bandolim) e Ronaldo Silva (percussão). Até porque o MPB4 lançou em discos várias músicas do compositor carioca, caso do samba Almanaque (Chico Buarque, 1981), desfolhado com desenvoltura no show. Já Angélica (Miltinho e Chico Buarque, 1978), solo vocal de Miltinho, se eleva mais pela força sempre pungente dos versos do que pela interpretação de menor expressão do criador da melodia. A propósito, a força das vozes do MPB4 sempre residiu na união delas, na forma como foram harmonizadas por Magro, pelo próprio Miltinho e, desde o atual disco, por Paulo Malaguti, artista oriundo de grupos vocais como o Céu da Boca. Com tal união, Cálice (Chico Buarque e Gilberto Gil, 1973) ainda serve goles que golpeiam toda forma de opressão com a força da palavra. E é pela palavra que Miltinho expressa a saudade de Magro ao recitar Amigo do peito, poema de Paulo César Pinheiro, escrito no dia seguinte à saída de cena do artista. Amigo do peito já ganhou música do MPB4 e foi cantado em show feito pelo grupo no início de 2013 na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Mas, na estreia carioca do show MPB4 50 anos - O sonho, a vida, a roda viva!, o poema foi somente recitado, preparando o clima para bloco em tributo ao legado de Magro, cujo solo na gravação original de O navegante (Sidney Miller, 1972) foi ouvido em off antes da interpretação (acelerada e, talvez por isso, nem tão emocionante) de Canção da América (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1979). Antes do bis com longo medley que agrega músicas emblemáticas na discografia do grupo, caso de Amigo é pra essas coisas (Silvio da Silva Junior e Aldir Blanc, 1970), A voz na distância (Paulo Malaguti Pauleira, 2016) fecha a roda, transcendendo passado e presente com êxito. Já um senhor tão bonito, o MPB4 faz a roda viver muito mais além do que se vê.
7 comentários:
♪ Nas rimas e ritmos do estilo vocal com que se impôs em cena há cerca de 50 anos, o MPB4 se mostra um senhor ainda bonito no show comemorativo das cinco décadas de trajetória profissional do grupo fluminense gerado em Niterói (RJ) a partir de 1962. No show que vai ficar em cartaz durante às quintas-feiras deste mês de junho de 2016 no revitalizado Teatro Serrador, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), o MPB4 faz uma oração ao tempo que o mantém vivo no som do estribilho. Não por acaso, Oração ao tempo - canção filosófica de Caetano Veloso lançada na voz do compositor em 1979 e regravada dois anos depois pelo MPB4 no álbum Tempo tempo (Ariola, 1981) - é cantada a capella pelo quarteto no show, na sequência do charmoso número inicial em que o grupo simula a cena em que defendeu Roda viva (Chico Buarque, 1967) em outubro de 1967 no palco do Teatro Paramount, em São Paulo (SP), na final do III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. O simulacro atiça a memória afetiva de quem conhece a história do MPB4. Contudo, o nível de vínculo do grupo com a música brasileira já é outro. Por conta do giro incessante e irrefreável da roda viva, a cristalizada imagem de 1967 já não pode ser refeita com precisão. Chico Buarque não está no número. Assim como o dissidente Ruy Faria, integrante da formação original do MPB4 que saiu do grupo em 2004. Sem falar que Antônio José Waghabi Filho (14 de novembro de 1943 - 8 de agosto de 2012) - o Magro, arranjador que delineou a assinatura vocal do MPB4 - já saiu de cena, ainda que Magro seja uma voz presente no show, como Paulo Malaguti Pauleira ressaltou na estreia carioca feita na noite de ontem, 2 de junho de 2016, para público amigo. Convidado em 2012 a substituir o insubstituível Magro, Malaguti forma atualmente o MPB4 com Aquiles Reis e Miltinho - os dois remanescentes da formação original do grupo - e com Dalmo Medeiros, que ocupa o lugar de Ruy Faria. O tempo é outro. Metade dos integrantes já é outra. Mas a identidade vocal do MPB4 - justiça seja feita - está toda lá. No medley do bis, quando o grupo vocaliza Porto (Dori Caymmi, 1975), tema que gravou para a trilha sonora da novela Gabriela (TV Globo, 1975), o MPB4 parece contínuo e jovial como o tempo para quem ora em cena. E, talvez por isso mesmo, o passado vença o presente no giro da roda do tempo. Em que pese o caráter retrospectivo, o show MPB4 50 anos - O sonho, a vida, a roda viva! também tem como mote o lançamento do primeiro álbum de músicas inéditas do grupo em 32 anos. Contudo, das 13 inéditas do revigorante disco, somente seis dão as caras em cena.
Sem tempo para ter se familiarizado com o repertório do álbum MPB4 50 anos - O sonho, a vida, a roda viva!, lançado em maio pelo Selo Sesc, o público da estreia carioca recebeu com justificável frieza petardos como o samba Desossado (João Bosco e Francisco Bosco, 2016) e os baiões Ateu é tu (Rafael Altério e Celso Viáfora, 2016) e Brasileia (Guinga e Thiago Amud, 2016). São ótimas músicas, afins como o repertório politizado que norteou a trajetória fonográfica do MPB4 nas décadas de 1960 e 1970. Tanto que as músicas inéditas estão bem costuradas no roteiro com sucessos antigos. A costura é feita pela linha da afinidade temática. Os sambas Desossado e Partido alto (Chico Buarque, 1972) estão linkados pelas misérias da sociedade humana. Baião de Guinga, Brasileia é a deixa para que o MPB4 celebre o compositor carioca que teve a honra de lançar em disco, gravando duas parcerias de Guinga com Paulo César Pinheiro no álbum Palhaços e reis (Philips, 1974). Com Miltinho ao violão, o grupo remói o choro triste de Conversa com o coração (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1974), uma dessas duas composições que apresentaram Guinga ao mercado fonográfico há 42 anos. Mas é Chico Buarque o compositor que mais girou com o MPB4 na roda viva desses 50 anos. O que justifica o fato de Chico ser o compositor de sete das 27 músicas encadeadas no roteiro seguido pelo MPB4 com o toque da banda formada por João Faria (baixo), Marcos Feijão (bateria), Pedro Reis (violão, guitarra e bandolim) e Ronaldo Silva (percussão). Até porque o MPB4 lançou em discos várias músicas do compositor carioca, caso do samba Almanaque (Chico Buarque, 1981), desfolhado com desenvoltura no show. Já Angélica (Miltinho e Chico Buarque, 1978), solo vocal de Miltinho, se eleva mais pela força sempre pungente dos versos do que pela interpretação de menor expressão do criador da melodia. A propósito, a força das vozes do MPB4 sempre residiu na união delas, na forma como foram harmonizadas por Magro, pelo próprio Miltinho e, desde o atual disco, por Paulo Malaguti, artista oriundo de grupos vocais como o Céu da Boca. Com tal união, Cálice (Chico Buarque e Gilberto Gil, 1973) ainda serve goles que golpeiam toda forma de opressão com a força da palavra. E é pela palavra que Miltinho expressa a saudade de Magro ao recitar Amigo do peito, poema de Paulo César Pinheiro, escrito no dia seguinte à saída de cena do artista. Amigo do peito já ganhou música do MPB4 e foi cantado em show feito pelo grupo no início de 2013 na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Mas, na estreia carioca do show MPB4 50 anos - O sonho, a vida, a roda viva!, o poema foi somente recitado, preparando o clima para bloco em tributo ao legado de Magro, cujo solo na gravação original de O navegante (Sidney Miller, 1972) foi ouvido em off antes da interpretação (acelerada e, talvez por isso, nem tão emocionante) de Canção da América (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1979). Antes do bis com longo medley que agrega músicas emblemáticas na discografia do grupo, caso de Amigo é pra essas coisas (Silvio da Silva Junior e Aldir Blanc, 1970), A voz na distância (Paulo Malaguti Pauleira, 2016) fecha a roda, transcendendo passado e presente. Já senhor tão bonito, o MPB4 faz a roda viver muito mais além do que se vê...
Eu sou apaixonado por eles! Eles são incríveis, é um talento e uma perfeição vocal muito bem harmonizada.
E mesmo sem o Magro, a afinação deles continua linda e delicada.
Tudo à ver, esse show, junto com o lançamento do Box Três Tons, com 3 CD's Remasterizados.
Lindos MPB4 :)
Mauro,
Algum comentário (nos bastidores), desta maravilha se tornar um DVD ou Blu-Ray ?
Não, Mauro Silva, por ora nada se sabe sobre um registro ao vivo do show. Abs, MauroF
Só pra lembrar que, sim Paulo Malaguti Pauleira foi do Céu da Boca, mas trazendo pro momento presente, ele também é, há 20 anos este ano, fundador, cantor e arranjador do Arranco de Varsóvia, que continua em plena atividade. valeu!
Não sabia que o grupo tivesse gravado 'Oração ao tempo',linda.A passagem do Tempo-Rei é mesmo intrigante.
Postar um comentário