Resenha de premiação de música
Evento: 27º Prêmio da Música Brasileira
Direção: José Maurício Machline
Roteiro: Zélia Duncan
Elenco: Alcione, Amora Pêra, Angela RoRo, Criolo (em foto de Caíque Cunha), Daniel Gonzaga,
Dônica, Elza Soares, Fernanda Gonzaga, Filipe Catto, João Bosco Júlio Andrade, Luiz
Melodia, Ney Matogrosso, Pretinho da Serrinha, Seu Jorge, Simone Mazzer e Thiago
da Serrinha
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 22 de junho de 2016
Cotação: * * * *
♪ Criolo se agigantou no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ) ao cair com alta dose de engajamento social no samba de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (1945 - 1991), o Gonzaguinha, cantor e compositor homenageado na 27ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Dirigida pelo empresário José Maurício Machline (criador da premiação), roteirizada com sensibilidade pela cantora Zélia Duncan e apresentada com leveza pela atriz Dira Paes, a cerimônia de entrega dos prêmios aconteceu na noite de ontem, 22 de junho de 2016, e foi entrelaçada com números musicais e com monólogos em que o ator Júlio Andrade - caracterizado como Gonzaguinha, tal como no filme de 2012 em que interpretou o artista carioca - expôs os fatos e sentimentos mais expressivos do homenageado, como se o próprio Gonzaguinha estivesse em cena. Ao levar o samba Comportamento geral (1972) para a praia do reggae e discursar contra a homofobia, o racismo e o machismo que se alastram no desgovernado Brasil de 2016, Criolo sobressaiu dentre os 17 nomes escalados para cantar 12 músicas deste compositor dono de obra que alternou fortes tons políticos e românticos. Presenças iluminadas como a do rapper paulistano e a do grupo carioca Dônica - que mergulhou com frescor e vivacidade no Lindo lago do amor (1984) - redimiram ausências sentidas como as de Maria Bethânia, Nana Caymmi e Simone, intérpretes fundamentais da obra de Gonzaguinha. Com a voz de contralto tinindo, Alcione abriu a série de números musicais cantando com desenvoltura o samba Com a perna no mundo (1979). Na sequência, Luiz Melodia se mostrou com pouca concentração ao dar Grito de alerta (1979) em dueto com Angela RoRo. A cantora tentou salvar a pátria, mas o dueto resultou sem interação. Filipe Catto e Simone Mazzer estiveram em maior sintonia ao dividir música, Sangrando (1980), talhada para vozes quentes como as dos cantores, que soaram intensos - como pede a canção - sem pecar por excessos vocais. Contudo, o microfone do cantor - em volume baixo, no início - prejudicou a fluência total do número. Além de solar Guerreiro menino (Um homem também chora) (1983) com sentimento, quase ao fim da cerimônia, o ator Júlio Andrade bem antes puxou a capella o coro da plateia de convidados em A vida do viajante (Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil, 1953), número improvisado para lembrar a harmonia obtida por pai e filho, Gonzagão (1912 - 1989) e Gonzaguinha, ao fim da vida. Com o habitual rigor estilístico, Ney Matogrosso defendeu Explode coração (1978) - com arranjo meio abolerado - e João Bosco se bastou com o violão em Galope (1974), número que seria feito com Gilberto Gil e Lenine (ausentes por problemas de saúde). Ladeada pelos cantores e percussionistas Pretinho da Serrinha e Thiago da Serrinha, Elza Soares caiu - dura na queda - no samba O que é o que é (1982), incrementado ao fim com a bossa negra da cantora, aplaudida de pé pela figura imponente e já mítica. Redescobrir (1980) teve tom lúdico e emotivo pela simples presença do trio formado pelos filhos de Gonzaguinha (Amora Pêra, Daniel Gonzaga e Fernanda Gonzaga). Daniel arrepiou quando soltou a voz de timbre idêntico ao do pai. Com bela presença vocal, Seu Jorge encerrou os números musicais - feitos sob a direção musical do pianista João Carlos Coutinho - com É (1988), samba desbocado que poderia ter soado mais vibrante se todos os convidados tivessem entrado em cena para arrematar o samba com Jorge e acentuar o tom político de noite que teria contentado Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, vulgo Gonzaguinha, um dos grandes compositores da MPB dos anos 1970 e 1980.
♪ Criolo se agigantou no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ) ao cair com alta dose de engajamento social no samba de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior (1945 - 1991), o Gonzaguinha, cantor e compositor homenageado na 27ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Dirigida pelo empresário José Maurício Machline (criador da premiação), roteirizada com sensibilidade pela cantora Zélia Duncan e apresentada com leveza pela atriz Dira Paes, a cerimônia de entrega dos prêmios aconteceu na noite de ontem, 22 de junho de 2016, e foi entrelaçada com números musicais e com monólogos em que o ator Júlio Andrade - caracterizado como Gonzaguinha, tal como no filme de 2012 em que interpretou o artista carioca - expôs os fatos e sentimentos mais expressivos do homenageado, como se fosse o próprio Gonzaguinha que estivesse em cena. Ao atualizar o samba Comportamento geral (1972) com textos sobre a homofobia, o racismo e o machismo que se alastram no desgovernado Brasil de 2016, Criolo sobressaiu dentre os 17 nomes escalados para cantar 12 belas músicas deste compositor dono de obra que alternou fortes tons políticos e românticos. Presenças iluminadas como a do rapper paulistano e a do grupo carioca Dônica - que mergulhou com frescor e vivacidade no Lindo lago do amor (1984) - redimiram ausências sentidas como as de Maria Bethânia, Nana Caymmi e Simone, intérpretes fundamentais da obra de Gonzaguinha. Com a voz de contralto tinindo, Alcione abriu a série de números musicais cantando com desenvoltura o samba Com a perna no mundo (1979). Na sequência, Luiz Melodia se mostrou com pouca concentração ao dar Grito de alerta (1979) em dueto com Angela RoRo. A cantora tentou salvar a pátria, mas o dueto resultou sem interação. Filipe Catto e Simone Mazzer estiveram em maior sintonia ao dividir música, Sangrando (1980), talhada para vozes quentes como as dos cantores, que soaram intensos - como pede a canção - sem pecar por excessos vocais. Além de solar Guerreiro menino (Um homem também chora) (1983) com sentimento, quase ao fim da cerimônia, o ator Júlio Andrade bem antes puxou a capella o coro da plateia de convidados em A vida do viajante (Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil, 1953), número improvisado para lembrar a harmonia obtida por pai e filho, Gonzagão (1912 - 1989) e Gonzaguinha, ao fim da vida. Com o habitual rigor estilístico, Ney Matogrosso defendeu Explode coração (1978) - com arranjo meio abolerado - e João Bosco se bastou com o violão em Galope (1974), número que seria feito com Gilberto Gil e Lenine (ausentes por problemas de saúde). Ladeada pelos cantores e percussionistas Pretinho da Serrinha e Thiago da Serrinha, Elza Soares caiu - dura na queda - no samba O que é o que é (1982), incrementado ao fim com a bossa negra da cantora, aplaudida de pé pela figura imponente e já mítica. Redescobrir (1980) teve tom lúdico e emotivo pela simples presença do trio formado pelos filhos de Gonzaguinha (Amora Pêra, Daniel Gonzaga e Fernanda Gonzaga). Daniel arrepiou quando soltou a voz de timbre idêntico ao do pai. Com bela presença vocal, Seu Jorge encerrou os números musicais - feitos sob a direção musical do pianista João Carlos Coutinho - com É (1988), samba desbocado que poderia ter soado mais vibrante se todos os convidados tivessem entrado em cena para arrematar o samba com Jorge e acentuar o tom político de noite que teria contentado Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, vulgo Gonzaguinha, um dos grandes compositores da MPB dos anos 1970 e 1980.
ResponderExcluirA premiação foi emocionante do início ao fim!! A cena que mostra a conversa entre Gonzaguinha e a mãe foi linda. Adorei também os vencedores, acho que foi a edição mais coerente do PMB.
ResponderExcluirGonzaguinha, pra mim, não foi só um dos grandes compositores da MPB dos anos 1970 e 1980, mas sim, de todos os tempos. Era sensível e visceral com a mesma destreza.
ResponderExcluirSobre o prêmio...
Acho muito conservador. E por vezes é repetitivo - tanto na lista de convidados, como na lista de indicados/premiados. Enfim ...
Um abraço a todos!
Diogo Santos
Apesar de boas interpretações, as músicas de Gonzaguinha feitas para Bethânia se mostram insuperáveis na voz da cantora. O ator que encarnou Gonzaguinha é incrível!
ResponderExcluirBacana sua análise, mas dizer que houve sintonia entre Filipe Catto e Simone Mazzer... sei não.
ResponderExcluirFilipe entrou mal e inseguro demais e a voz dele em nada combina com a da Simone Mazzer! Melodia foi mal na canção inteira....Alcione mediana parecia que queria sair correndo do palco. Ro Ro e Ney foram os únicos que arrebataram o Municipal!
ResponderExcluirMelodia e Roro destruíram uma canção que esta no emocional brasileiro, Catto me pareceu enfrentar leve problema técnico quando sua voz pouco se ouvia no inicio da canção, contudo defenderam bem; Zélia ganhar duas vezes achei exagero, o albúm não é tudo isso que dizem; já Alcione, potencia máxima que é, brilhou como sempre. Quanto ao prêmio me remete as ''panelas'' criadas em todo segmento, mesmo que os trabalhos apresentados são todos num patamar muito bom ( até porque a maioria dos concorrentes tem séculos de profissão, então, é obrigatório mostrar um trabalho de qualidade). O Ator ( com A maiúsculo ) representou de forma indefectível Gonzaguinha e Dira é realmente a melhor apresentadora, sem ser aquela coisa plastificada que vemos em premiações a fora...
ResponderExcluirEdu Chedid, você tem razão ao apontar o erro técnico que deu a impressão de que Filipe Catto entrou mal em 'Sangrando'. O microfone dele estava baixo no início do número - o que causou tal impressão. Abs, MauroF
ResponderExcluirConcordo com tudo. Criolo destruiu. Foi incrível. Só tenho mini implicância com esses meninos da Dônica. Gosto de alguma coisa do som deles, mas não suporto a estética falso hippie, falso desleixo, falso deboísmo, falso hipster... blergh. Impliquei com a apresentação. Felizinha demais, hahaha!
ResponderExcluirE o PMB precisa mudar. Vamos ter que esperar o Machline entender que não é mais um prêmio dele, é maior, é importante... precisa virar um prêmio do Brasil, de fato. Para além do Rio de Janeiro, para além dessa áurea sisuda, de confraternização de empresa.
Deveriam parar com esse negócio de colocar gente que está indicada para se apresentar também. Tem muito artista precisando de espaço.
Gosto do texto da Zélia.
Me incomodou o prêmio não ter sido o protagonista da festa. Como é que se perde a oportunidade de ouvir Elza agradecer ao prêmio, falar do trabalho, sabe? Tem umas coisas imperdoáveis.